E O Luar Observa-nos

Era a noite perfeita. O ambiente perfeito. O local perfeito. A música perfeita.

Em suma, era tudo perfeito. Ou pelo menos era isso que devia ser.

Ela estava sozinha, sentada numa cadeira, observando tudo e todos à sua volta.

Tinha decidido ir sozinha ao baile. Algures, na sua mente, tinha criado a ilusão de que alguém iria reparar nela. Tinha talvez despertado a ideia contida no seu subconsciente de uma história de Cinderella, que havia de ser encontrada. Que esta seria a sua noite. Que deixaria para trás todos os problemas, todos os corações partidos, todas as lágrimas, suspiros e desesperos.

Não tinha encontrado a sua fada madrinha, mas tinha tido a capacidade de se transformar por si própria: o seu cabelo castanho dourado estava elegantemente preso por um gancho rosa, maquilhagem subtil mas a suficiente para fazer sobressair os seus olhos azuis--escuros. O seu vestido assentava-lhe perfeitamente e o rosa-velho fazia um contraste belíssimo contra a sua pele bronzeada. Os sapatos também rosa, mas mais escuros, faziam o seu andar extremamente gracioso.

Mas parecia que ninguém reparava. Todos lhe passavam à frente e nem um único par de olhos se dirigia na sua direcção.

Levantou-se e foi para a janela. Observou a Lua, brilhante e imponente, lá no alto. Pensou em todas as vezes que contemplava o luar, revivendo as histórias da infância na sua cabeça, vezes e vezes sem conta. Sonhava que era uma princesa, esperando pacientemente pelo seu príncipe encantado.

E nas alturas que ela pensava que o tinha encontrado, uma bruxa má qualquer fazia um feitiço maquiavélico e, tal e qual como por magia, ele ia-se embora sem lhe dar nenhuma explicação. E o coração dela partia-se em milhares de bocados que mais tarde se espalhavam no chão e ela, descalça, cortava-se nos cacos de cada vez que tentava avançar.

Sentiu uma mão no seu ombro direito, que a arrancou bruscamente dos seus pensamentos e a puxou novamente para a dura realidade, para aquela noite solitária de Verão.

Virou-se lentamente e olhou para o rapaz que se encontrava perante ela. Era alto, moreno, de olhos verdes e bem vestido.

Seria este o seu príncipe encantado? Ou apenas outro que a faria sangrar?

“Não pude deixar de reparar que te encontraste sozinha a noite inteira”, disse ele, numa voz suave mas ao mesmo tempo imponente.

Ela pôs um ar desconfiado na cara perante a afirmação do atraente desconhecido. Aparentemente, ele reparou na dúvida que pairava na sua face.

“Desculpa, pus os olhos em ti mal entraste por aquela porta. E tive este tempo todo a tentar descobrir se tinhas par ou se eras apenas uma donzela abandonada.”

Ela sorriu e corou levemente. Olhou para o chão.

“Pensei que esta noite fosse apropriada para um conto de fadas.”

E então eles olharam-se directamente, olhos nos olhos.

“A noite ainda não acabou”, disse ele, depois de ter olhado para o relógio.

Ela sorriu novamente e caminhou para dentro do salão com ele.

Teria a Cinderella encontrado o seu príncipe?